Ela havia iniciado
um novo tratamento, doía-lhe as costas, os braços não erguiam, doía-lhe também
a alma. Ela gostaria que seus braços estivessem saudáveis e aptos para dar e
receber abraços, era o período natalício, no entanto, nada disso lhe era
possível naquele momento.
O novo doutor era
um homem bom, gentil e dedicado e ela ficara feliz de poder chamá-lo de Prof.
ao invés de Doutor, visto que alguns títulos profissionais costumam causar um
certo distanciamento.
Após uma semana
compartilhando com ele as dúvidas e inquietações que eram refletidas em seu
corpo, sentia-se apta para fazer-lhe um pedido:
- Prof. o sr.
poderia, por favor, verificar as dores que sinto na coluna cervical?
O Prof. gentilmente
aceitou o pedido e disse que resolveria o problema dando-lhe um “abraço de
urso”; mas para dar certo o tratamento seria preciso que ela confiasse no
trabalho dele, e então falou:
- Cruze os braços à
sua frente, respire profundamente e se solte. Confie em mim, jogue-se pra trás,
não vou deixá-la cair...
Essas palavras
deram a ela a certeza de que estava em boas mãos; assim, respirou profundamente
e soltou-se. O abraço foi firme e seguro. Ela sentiu o estalo das vértebras
sendo recolocadas em seus lugares, o alívio foi imediato.
Ela ficara tão
feliz que pensara em se girar pra abraçá-lo, como forma de agradecimento,
apesar de saber que um de seus braços não se levantaria, ou seja, naquele
momento ela não poderia realizar esse simples e maravilhoso gesto: dar um
abraço.
Enquanto ela
aproveitava o momento de relaxamento que a terapia do abraço lhe causara,
entrou na sala uma Profa. E, ao vê-lo empenhado no tratamento, gritou:
- Ricardo,
como você está muito bonzinho esta semana de Natal, recebendo panetones e
distribuindo abraços.
Naquele momento,
quando ela ouvira aquele nome, sentiu um frio percorrendo toda a sua espinha,
quase desmaiou. Sua mente estava em turbilhão: “Como assim, ele tinha esse nome
e ela não sabia?” Refletiu então que esse deveria ser o seu segundo nome,
utilizado apenas pelas pessoas mais íntimas, porém, para ela, ouvir esse nome fez
com que uma energia boa pairasse no ar e invadisse o seu corpo.
O Prof. percebeu que
ela estava com os olhos marejados de lágrimas que escorriam calmamente...
lentamente. Assustado, ele perguntou: Eu te machuquei?
E ela respondeu:
Não! Foi maravilhoso! Estou aliviada. Senti que saiu o peso das minhas costas
saiu. Muito obrigada!
Ele, confiante e
com um belo sorriso, respondeu:
- Fico feliz em
ajudar; quando precisar de um abraço, é só me pedir.
Nesse momento, ela
baixou os olhos e esperou que ele saísse de perto para poder se recuperar da
emoção que estava sentido. Não havia uma explicação plausível, afinal nem ele e
nem ninguém poderia compreender por que uma pessoa se emocionaria ao ouvir um
“nome”... Ela porém sabia que
o primeiro instante daquele abraço lhe curara o corpo, mas, no segundo instante,
no qual ouvira aquele “nome”, recebeu um abraço que lhe acalentara a alma.
É
impossível explicar a emoção de um abraço com nome, só se pode
senti-la.
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