sábado, 22 de dezembro de 2018

Abraço com nome


Ela havia iniciado um novo tratamento, doía-lhe as costas, os braços não erguiam, doía-lhe também a alma. Ela gostaria que seus braços estivessem saudáveis e aptos para dar e receber abraços, era o período natalício, no entanto, nada disso lhe era possível naquele momento.
O novo doutor era um homem bom, gentil e dedicado e ela ficara feliz de poder chamá-lo de Prof. ao invés de Doutor, visto que alguns títulos profissionais costumam causar um certo distanciamento.
Após uma semana compartilhando com ele as dúvidas e inquietações que eram refletidas em seu corpo, sentia-se apta para fazer-lhe um pedido:
- Prof. o sr. poderia, por favor, verificar as dores que sinto na coluna cervical?
O Prof. gentilmente aceitou o pedido e disse que resolveria o problema dando-lhe um “abraço de urso”; mas para dar certo o tratamento seria preciso que ela confiasse no trabalho dele, e então falou:
- Cruze os braços à sua frente, respire profundamente e se solte. Confie em mim, jogue-se pra trás, não vou deixá-la cair...
Essas palavras deram a ela a certeza de que estava em boas mãos; assim, respirou profundamente e soltou-se. O abraço foi firme e seguro. Ela sentiu o estalo das vértebras sendo recolocadas em seus lugares, o alívio foi imediato.
Ela ficara tão feliz que pensara em se girar pra abraçá-lo, como forma de agradecimento, apesar de saber que um de seus braços não se levantaria, ou seja, naquele momento ela não poderia realizar esse simples e maravilhoso gesto: dar um abraço.
Enquanto ela aproveitava o momento de relaxamento que a terapia do abraço lhe causara, entrou na sala uma Profa. E, ao vê-lo empenhado no tratamento, gritou:
Ricardo, como você está muito bonzinho esta semana de Natal, recebendo panetones e distribuindo abraços.
Naquele momento, quando ela ouvira aquele nome, sentiu um frio percorrendo toda a sua espinha, quase desmaiou. Sua mente estava em turbilhão: “Como assim, ele tinha esse nome e ela não sabia?” Refletiu então que esse deveria ser o seu segundo nome, utilizado apenas pelas pessoas mais íntimas, porém, para ela, ouvir esse nome fez com que uma energia boa pairasse no ar e invadisse o seu corpo.
O Prof. percebeu que ela estava com os olhos marejados de lágrimas que escorriam calmamente... lentamente. Assustado, ele perguntou: Eu te machuquei?
E ela respondeu: Não! Foi maravilhoso! Estou aliviada. Senti que saiu o peso das minhas costas saiu. Muito obrigada!
Ele, confiante e com um belo sorriso, respondeu:
- Fico feliz em ajudar; quando precisar de um abraço, é só me pedir.
Nesse momento, ela baixou os olhos e esperou que ele saísse de perto para poder se recuperar da emoção que estava sentido. Não havia uma explicação plausível, afinal nem ele e nem ninguém poderia compreender por que uma pessoa se emocionaria ao ouvir um “nome”... Ela porém sabia que o primeiro instante daquele abraço lhe curara o corpo, mas, no segundo instante, no qual ouvira aquele “nome”, recebeu um abraço que lhe acalentara a alma. 
É impossível explicar a emoção de um abraço com nome, só se pode senti-la.

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