domingo, 23 de dezembro de 2018

AS TERRAS POR ONDE ANDEI, A ITÁLIA QUE ENCONTREI


O viajante vai a lugares desconhecidos por diversos motivos, já que “é sua vontade e curiosidade que o motivará a percorrer os caminhos” Luís Romano (2013, p. 34) em busca de conhecer novos locais e principalmente novas culturas. Inicialmente a viagem surge movida por algumas perguntas: O que configura uma nação? Qual a importância cultural do seu povo? Quais são os costumes característicos dessa sociedade? Depois de muitas indagações, horas de voos, trens, ônibus e caminhadas na busca de respostas para algumas dessas perguntas, o viajante começa a perceber a diversidade cultural como uma das características especiais de cada país, e, desta maneira, busca localizar os pontos de atração dessa nação desconhecida com a sua própria cultura, de modo a permitir uma proximidade com os costumes daquele povo. E assim, ansioso por fazer parte da cultura do chamado outro Mundo, o viajante se põe a caminhar. Romano (2013, p.34) destaca que “a intenção passa a distinguir o turismo da viagem tradicional”, na qual se localiza o “viajante tradicional” que se desloca, principalmente, “por necessidade, em função de atividades de Estado, comerciais ou de crenças religiosas” enquanto que “o turista” é o indivíduo que coloca, em primeiro lugar, “motivações pessoais, a viagem como aventura, distinção social ou lazer torna-se um fim em si mesmo” Romano (2013, p.34). A primeira parada atrativa (e mais fácil, por conta da identidade linguística) ao falante da Língua Portuguesa será na chamada “terra dos sonhos”, a terra dos descobridores do Brasil, ou seja, a viagem inicia-se pela cauda Ocidental da Europa, na bela Portugal. Descobrir a terra de Camões, de Fernando Pessoa, de gente bravia que no século XII abriram caminho para o novo mundo com suas potentes caravelas. Neste país, o viajante repousa um tempo na busca de compreender como a coragem do povo lusitano foi capaz de colonizar tantos povos e nações, sendo um país tão pequeno e tendo sido, ele também, dominado por outros povos. O viajante, ao parar na frente do imponente monumento dos Descobridores, em Lisboa, reconhece nele um símbolo da representatividade da coragem de um povo como a sua maior força, pois eles sonharam e acreditaram na existência de outras civilizações além-mar e foram ao encontro delas. Após essa reflexão, o viajante compreende que foi ali, naquele lugar, agora representado por um monumento, que Portugal enxergou um novo país, chamado Brasil, e reconhece este lugar como um porto, não apenas como um lugar de partidas e chegadas, mas como um lugar de paragem. E nessa caminhada, recordo os versos do poeta Narlan Matos (2012, p.49) quando diz “na estrada que me leva de volta para casa não há como fugir de mim”, e assim o viajante compreende que essas terras lusitanas o conduzem de volta para casa e pode ser também um lugar de permanência. Porém, passando alguns anos, o viajante sente vontade de recomeçar a sua viagem e parte para a Espanha, para conhecer a terra dos reis que dominaram a sua amada Portugal. No século XX as viagens para a Espanha costumam ser para apreciar as obras de alguns artistas importantes como: Pablo Picasso, Joan Miró e Salvador Dalí. Nesse país, o viajante descobre, também, a existência da divisão de línguas e de costumes internas e intensas, mesmo todos sendo espanhóis e pertencentes das mesmas terras; essa cultura desconhecida assusta o viajante, de forma que ele decide prosseguir viagem. Romano (2013, p. 34) destaca que “é sua vontade e curiosidade que o motivará a percorrer [novos] caminhos. Assim, a estrada agora leva o viajante para a “Cidade das Luzes”, a bela Paris, com sua imponente Torre Eifell, com o Museu do Louvre e a enigmática Catedral de Notre-Dame, esses locais impressionam, tanto quanto as pinturas de Claude Monet e Pierre Auguste Renoir, que farão o viajante admirar essa cultura. Entretanto, mesmo diante de tanta beleza, o viajante ainda não sabe qual país será capaz de aquietar o seu coração, então ele decide que é hora de deixar o barco que atravessa o rio Sena para pegar mais um voo, no fantástico aeroporto Charles de Gaulle, agora rumo a Itália. O escritor Ítalo Calvino (1990, p.6) cita em sua obra As cidades invisíveis que o viajante após ter saciado a sua curiosidade, percebe que “os desejos agora são [apenas] recordações”. E assim, na ânsia de se localizar, no tempo e no espaço em que vive, o viajante chega a Itália para apreciar um bom vinho, para comer uma boa pizza e parlare com gli amici. Calvino destaca ainda que “cada pessoa tem em mente uma cidade [país] feita unicamente de diferenças” (1990, p.17) e são diferenças que fazem o viajante desejar uma aproximação para conhecer a diversidade cultural que caracteriza uma nação. Na Itália, a primeira cidade pela qual ele se encanta será Roma, uma cidade que possui dentro de si, outro país, o Estado do Vaticano, lugar de religiosidade e monumentos que o tempo não destruiu para que a nova geração possa ver e conhecer a cultura de um povo capaz de, no imponente Colosseu, participar de festas culturais em que os cristãos eram comidos por leões. Nessa terra o viajante compreende a história de um povo que não se arrende diante das tempestades naturais, que convive com as larvas do Vesúvio e com terremotos, que sofre calamidades, mas não se arrende, reconstrói suas cidades graças a sua determinação e união. E finalmente, o viajante aprecia o jeito italiano de “falar com as mãos”, de vestir-se com elegância, de possuir a capacidade criar grandes óperas com drama e paixão, e aprende as regras de etiqueta de como tomar um vinho de acordo com o acompanhamento da “pasta”, e ainda, aprecia a originalidade de se mangiare pizza com a mão, então, nesse momento, o viajante começa a sentir-se em casa. Reconhece que cada país tem a sua cultura, e o viajante, após ter andado por terras portuguesas, espanholas e francesas descobre o seu porto seguro na Itália. Com o tempo compreenderá que talvez foi o DNA que corre em suas veias, graças aos seus antepassados, que o conduziram por essa estrada, e assim o viajante percebe que chegou. Pois ali, nesta terra, finalmente, entre músicas e bênçãos, sua alma se aquietou e já não sente mais saudade. SANTIAGO-DÍAZ (2014) cita que “Saudade, essa palavra que parece resumir toda uma idiossincrasia brasileira, aqui podia servir para resumir o estado animador que encoraja a escrita tanto nos poemas mais decididamente sociais como nos mais líricos. E acontece que, mesmo que o poeta esteja de volta a sua terra natal, sua consciência já se encontra afetada pelo deslocamento e pela distância do imigrante. SANTIAGO-DÍAZ (2014, p.186).

Referências
MATOS, Narlan. Elegia ao Novo Mundo e outros poemas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012
SANTIAGO-DÍAZ, Eleuterio. Narlan Matos e Elegia ao Novo Mundo e outros poemas: o prólogo extraviado. Revista de Literatura, História e Memória. v.10, p. 181-195, 2014.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
ROMANO, Luís A.C. Viagens e Viajantes: Uma Literatura de Viagens Contemporânea, Estação Literária. v. 10B, p. 33-48, 2013.

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