O viajante vai a lugares
desconhecidos por diversos motivos, já que
“é sua vontade e curiosidade que o motivará a percorrer os caminhos” Luís
Romano (2013, p. 34) em busca de conhecer novos locais e principalmente novas
culturas. Inicialmente a viagem surge movida
por algumas perguntas: O que configura uma nação? Qual a importância cultural
do seu povo? Quais são os costumes característicos dessa sociedade? Depois de
muitas indagações, horas de voos, trens, ônibus e caminhadas na busca de
respostas para algumas dessas perguntas, o viajante começa a perceber a
diversidade cultural como uma das características especiais de cada país, e,
desta maneira, busca localizar os pontos de atração dessa nação desconhecida
com a sua própria cultura, de modo a permitir uma proximidade com os costumes
daquele povo. E assim, ansioso por fazer parte da cultura do chamado outro
Mundo, o viajante se põe a caminhar. Romano (2013, p.34) destaca que “a
intenção passa a distinguir o turismo da viagem tradicional”, na qual se
localiza o “viajante tradicional” que se desloca, principalmente, “por
necessidade, em função de atividades de Estado, comerciais ou de crenças
religiosas” enquanto que “o turista” é o indivíduo que coloca, em primeiro
lugar, “motivações pessoais, a viagem como aventura, distinção social ou lazer
torna-se um fim em si mesmo” Romano (2013, p.34). A primeira parada atrativa (e
mais fácil, por conta da identidade linguística) ao falante da Língua
Portuguesa será na chamada “terra dos sonhos”, a terra dos descobridores do
Brasil, ou seja, a viagem inicia-se pela cauda Ocidental da Europa, na bela
Portugal. Descobrir a terra de Camões, de Fernando Pessoa, de gente bravia que
no século XII abriram caminho para o novo mundo com suas potentes caravelas.
Neste país, o viajante repousa um tempo na busca de compreender como a coragem
do povo lusitano foi capaz de colonizar tantos povos e nações, sendo um país
tão pequeno e tendo sido, ele também, dominado por outros povos. O viajante, ao
parar na frente do imponente monumento dos Descobridores, em Lisboa, reconhece
nele um símbolo da representatividade da coragem de um povo como a sua maior
força, pois eles sonharam e acreditaram na existência de outras civilizações
além-mar e foram ao encontro delas. Após essa reflexão, o viajante compreende
que foi ali, naquele lugar, agora representado por um monumento, que Portugal
enxergou um novo país, chamado Brasil, e reconhece este lugar como um porto,
não apenas como um lugar de partidas e chegadas, mas como um lugar de paragem.
E nessa caminhada, recordo os versos do poeta Narlan Matos (2012, p.49) quando
diz “na estrada que me leva de volta para casa não há como fugir de mim”, e
assim o viajante compreende que essas terras lusitanas o conduzem de volta para
casa e pode ser também um lugar de permanência. Porém, passando alguns anos, o
viajante sente vontade de recomeçar a sua viagem e parte para a Espanha, para
conhecer a terra dos reis que dominaram a sua amada Portugal. No século XX as
viagens para a Espanha costumam ser para apreciar as obras de alguns artistas
importantes como: Pablo Picasso, Joan
Miró e Salvador Dalí. Nesse país, o viajante descobre, também, a existência
da divisão de línguas e de costumes internas e intensas, mesmo todos sendo
espanhóis e pertencentes das mesmas terras; essa cultura desconhecida assusta o
viajante, de forma que ele decide prosseguir viagem. Romano (2013, p. 34)
destaca que “é sua vontade e curiosidade que o motivará a percorrer [novos]
caminhos. Assim, a estrada agora leva o viajante para a “Cidade das Luzes”, a
bela Paris, com sua imponente Torre Eifell,
com o Museu do Louvre e a enigmática
Catedral de Notre-Dame, esses locais
impressionam, tanto quanto as pinturas de Claude
Monet e Pierre Auguste Renoir, que farão o viajante admirar essa cultura.
Entretanto, mesmo diante de tanta beleza, o viajante ainda não sabe qual país
será capaz de aquietar o seu coração, então ele decide que é hora de deixar o
barco que atravessa o rio Sena para
pegar mais um voo, no fantástico aeroporto Charles
de Gaulle, agora rumo a Itália. O escritor Ítalo Calvino (1990, p.6) cita
em sua obra As cidades invisíveis que
o viajante após ter saciado a sua curiosidade, percebe que “os desejos agora
são [apenas] recordações”. E assim, na ânsia de se localizar, no tempo e no
espaço em que vive, o viajante chega a Itália para apreciar um bom vinho, para
comer uma boa pizza e parlare com gli
amici. Calvino destaca ainda que “cada pessoa tem em mente uma cidade
[país] feita unicamente de diferenças” (1990, p.17) e são diferenças que fazem
o viajante desejar uma aproximação para conhecer a diversidade cultural que
caracteriza uma nação. Na Itália, a primeira cidade pela qual ele se encanta
será Roma, uma cidade que possui dentro de si, outro país, o Estado do
Vaticano, lugar de religiosidade e monumentos que o tempo não destruiu para que
a nova geração possa ver e conhecer a cultura de um povo capaz de, no imponente
Colosseu, participar de festas
culturais em que os cristãos eram comidos por leões. Nessa terra o viajante
compreende a história de um povo que não se arrende diante das tempestades
naturais, que convive com as larvas do Vesúvio
e com terremotos, que sofre calamidades, mas não se arrende, reconstrói suas
cidades graças a sua determinação e união. E finalmente, o viajante aprecia o
jeito italiano de “falar com as mãos”, de vestir-se com elegância, de possuir a
capacidade criar grandes óperas com drama e paixão, e aprende as regras de
etiqueta de como tomar um vinho de acordo com o acompanhamento da “pasta”, e
ainda, aprecia a originalidade de se mangiare
pizza com a mão, então, nesse momento, o viajante começa a sentir-se em casa.
Reconhece que cada país tem a sua cultura, e o viajante, após ter andado por
terras portuguesas, espanholas e francesas descobre o seu porto seguro na
Itália. Com o tempo compreenderá que talvez foi o DNA que corre em suas veias,
graças aos seus antepassados, que o conduziram por essa estrada, e assim o
viajante percebe que chegou. Pois ali, nesta terra, finalmente, entre músicas e
bênçãos, sua alma se aquietou e já não sente mais saudade. SANTIAGO-DÍAZ (2014) cita que “Saudade, essa palavra que parece
resumir toda uma idiossincrasia brasileira, aqui podia servir para resumir o
estado animador que encoraja a escrita tanto nos poemas mais decididamente
sociais como nos mais líricos. E acontece que, mesmo que o poeta esteja de
volta a sua terra natal, sua consciência já se encontra afetada pelo
deslocamento e pela distância do imigrante. SANTIAGO-DÍAZ (2014, p.186).
Referências
MATOS, Narlan. Elegia ao Novo Mundo e outros poemas. Rio de Janeiro: 7 Letras,
2012
SANTIAGO-DÍAZ, Eleuterio. Narlan Matos e Elegia ao Novo Mundo e
outros poemas: o prólogo extraviado. Revista de Literatura, História e
Memória. v.10, p. 181-195, 2014.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
ROMANO,
Luís A.C. Viagens e Viajantes: Uma Literatura de Viagens Contemporânea, Estação
Literária. v. 10B, p. 33-48, 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário