segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Eu fui... Babysitter!


A negociação para encontrar um emprego na Itália começou em Portugal, onde eu trabalhava numa ótica e relojoaria e o patrão, que era Ítalo-brasileiro, costumava acompanhar as notícias dos jornais italianos. Um belo dia, encontramos um anúncio, de uma família italiana, que precisava de uma babysitter, ao qual respondemos. Depois de uma semana de negociações, fui contratada. Não por ter alguma experiência, mas sim por ter referências, ou seja, a qualificação mais importante, naquele momento, era ser uma “pessoa de confiança”.

Parti para Verona e fui trabalhar com uma família que tinha duas crianças: Leonardo, de 10 anos e Arianna, de 3 anos.
Léo, era um garoto tímido e a minha missão era levá-lo para a escola no início da manhã e buscá-lo ao fim do dia; em casa ele gostava de ficar jogando no computador, ou seja, era muito fácil cuidar dele, pois já era independente.
Arianna, era uma menina linda e alegre, não sabia falar direito, mas já sabia exatamente o que queria. Me apaixonei imediatamente por ela, porque me vi na mesma situação em que ela estava, no sentido de que eu também, não sabia falar italiano direito, mas sabia o que queria e estava determinada a ficar na Itália.
Eu e ela passávamos o dia juntas e percebi que os problemas que surgiram foi porque eu não era uma babysitter cultural. Cultural? Você nunca ouviu falar sobre isso, nem eu, até acontecer comigo. Vamos aos exemplos, acredito que eles conseguirão explicar melhor essa modalidade de trabalho que, deveria, estar catalogada no dicionário.
A primeira vez que preparei uma refeição sozinha com a Arianna, segui as instruções de preparo, arrumei a mesa, como faria se estivesse na minha casa no Brasil, ou seja, coloquei uma toalha na mesa, o macarrão num prato fundo e dei um garfo para ela poder comer. A menina olhou para “aquilo” e ficou chocada – não tocou em nada –  recusando-se a comer.
Primeiramente pensei que a pasta não estava al dente, que tinha esquecido o sal e sei lá mais o que...então, experimentei, e não achei o defeito. Tentei argumentar com ela, sem sucesso; tentei colocar a comida na sua boca, ela não aceitou dizendo que: “não era mais criança e sabia comer sozinha”. Desisti! Como não tinha um bom vocabulário para negociar pedi para ela me mostrar aonde estava o problema. Está preparado? Lá vai!
A menina pegou um prato raso e colocou embaixo do prato fundo; colocou os três talheres na mesa (garfo, faca e colher); colocou os dois copos (água e suco); e finalmente, botou o guardanapo de pano em volta do pescoço. Fiquei impressionada. Não é que a “pestinha” não tinha aceitado comer porque a mesa não estava arrumada de acordo com os moldes do costume italiano? O jeito foi arrumar o meu prato igual o dela e finalmente, conseguimos comer.
Esse foi o meu primeiro choque cultural como babysitter, tá rindo? Eu chorei!
Vou contar só mais uma “trapalhada” na esperança de continuar com alguma moral entre os meus fãs leitores... rs rs.
Nasci no Brasil, só conheci a neve na Itália, sendo assim, a minha experiência com roupas italianas para estações frias era... zero. Tive que aprender tudo morando lá e sabe com quem? Com a minha Profa. Arianna (tá rindo né!), tudo bem, chega de me lamentar, vamos aos fatos.
Uma bela manhã, de chão branquinho, expliquei para a ela que iríamos descer no parquinho, para brincar na neve. Depois de passar quase uma hora vestindo-a ela não se moveu do quarto. Novamente, comecei a minha argumentação, sem êxito. Não conseguia saber o que ela queria. Então, se as palavras são vãs, os exemplos arrebatam. Me acalmei, e pedi para ela mostrar-me onde estava o problema. Foi então que ela me pediu para ajudá-la a “tirar” as roupas que eu tinha demorado um tempão para  escolher e colocar nela...
- O que? - Como assim? Tentei replicar!
Então, mesmo em pânico, prossegui obedecendo a menina e quando terminamos de tirar tudo, ela abriu as gavetas e mostrou-me que eu devia vestir por primeiro uma camisetinha regata e depois uma mini ceroula, roupas feitas de um tecido fofinho que deixa o corpo aquecido, só depois, pode-se colocar a camiseta de manga longa, a blusa de lã e a jaqueta impermeável com a calça impermeável. Pronto! Ao invés de um monte de roupas, se poderia colocar apenas algumas, mas as certas né?!! (rs rs rs)
Finalmente, conseguimos sair de casa e fomos tomar um gelato, outro costume italiano que aprendi por lá. Que é melhor tomar sorvete no inverno, para não ocorrer um choque térmico na garganta, ao contrário do que eu fazia no Brasil, tomar sorvete no verão.
Após esses relatos, penso que foi possível perceber a minha dificuldade de ser uma babysitter cultural, ou seja, a Arianna me mostrou que se não conheço a cultura, também não sei falar a língua de um pais.
Depois de alguns meses, pedi demissão, admiti a minha inaptidão para a função. Porém, como passei a trabalhar na empresa de roupas do pai dela, o combinado era que, nos finais de semana ou viagens, eu seria a babysitter da Arianna, que já tinha percebido que eu não entendia nada da sua cultura, mas ela sabia que tinha encontrado um lugarzinho especial no meu coração.
A foto acima, é ela, desfilando a coleção Kids, na empresa do pai dela, enquanto eu estava nos bastidores do desfile, ajudando a vestir as modelos.
Ah! Desta vez, eu já sabia como se deveria vestir as crianças, as roupas estavam colocadas em cabides, separados com o nome de cada uma delas, era só seguir o catálogo do desfile, de acordo com o tema da coleção da estação (inverno ou verão). 

Gostou? Espero que sim! (risos). Adoraria ouvir a sua opinião nos comentários.


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