sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Reflexão diante do Firmamento e do Caixão


Deitada no banco da Praça da Igreja, ela olhava o céu e se perguntava:
- Para que serve o firmamento? 
E a resposta, intuitivamente, surgira em sua mente:
- Para lembrar-me da minha pequenez... 
Depois de meditar, levantou-se, caminhou até a Capela Mortuária, criou coragem, entrou, e ao ver o morto, se perguntou:
- Para que serve um velório?
- Para lembrar-me da minha pequenez... 


Era janeiro de 2019 e desta vez o destino escolhido não foi de férias, foi para casa de parentes, no norte do PR, com o objetivo de dar um abraço nos primos que também estavam na estrada e se encontrariam para o enterro do pai, que se foi antes do combinado, para uma outra dimensão. 
Esses encontros familiares, inesperados, podem ser oportunidades de reflexão pessoal e também de recordar boas histórias de vida, já que costuma-se encontrar pessoas que não se veem há muitos anos e cada um se lembra de algo que foi vivido junto no passado. 
O falecido era um ótimo churrasqueiro, gostava de receber amigos, assim o freezer estava cheio de carne e de cerveja. Depois do enterro, os parentes realizaram um churrasco e beberam em homenagem à vida e aos bons momentos vividos naquela casa, em companhia dele. 
Os parentes vieram de Portugal, França, São Paulo, Minas e Paraná, alguns tinham chegado para as comemorações do Ano Novo e outros foram informados de última hora, todos vieram, para dar um último abraço ao que se foi, e dar muito mais abraços aos que ficaram. 
No domingo, depois de terem conseguido fazer a camionete do pai funcionar, os filhos se reuniram para levar a mãe para ver o pequeno porto que existe há 10 Km da casa, mas que a mãe não conhecia, porque o pai não gostaria de colocar a camionete em uma estrada de chão. Assim, ele perdeu a oportunidade de ver a beleza do rio Parapanema, um divisor natural dos territórios dos Estados de São Paulo e Paraná e suas ilhas, e não pode colocar os pés naquelas águas, reunido com toda a sua família. 
E foi assim que novo ano se iniciou, com famílias unidas em orações e pedidos de perdão pelos pecados de gula e soberba e outros pecados capitais, que não teriam sido cometidos em tão pouco tempo, se viver não fosse urgente. 
Diante do firmamento e diante de um caixão, existe um momento de reflexão, que possibilitam-nos lembrar que temos a oportunidade de realizar os nossos sonhos, agora, antes que a passagem final se concretize e nos mostre a nossa pequenez... 

N. Londrina, 03/01/2019.

6 comentários:

  1. Velórios sempre são espaços de reencontros. Ali vemos e revemos parentes, que se não fosse pela morte, talvez adiariam mais um ano ou dois a visita.
    E o rio estava tão perto....

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    1. Obrigada pela leitura e por ter compreendido que "o rio estava tão perto"... às vezes não vivemos o momento, porque pensamos ser eternos.

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  2. Realmente Joci, a morte não separa, ela une os que estavam longe!
    Linda reflexão, parabéns "o rio tão perto " e as vezes não temos tempo de molhar os pés!

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    1. Gratidão pela leitura, compreensão e incentivo de transformar dor em palavras para que possam ser compartilhadas...e dissipadas ao vento.

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